sábado, 17 de maio de 2014

Controle de Qualidade de Medicamentos – Preparação de Amostras para Cromatografia em Camada Delgada



As soluções que serão aplicadas na placa devem estar suficientemente concentradas, para que o analito possa ser detectado, e puras, para que o analito seja separado como manchas compactas e discretas. O solvente no qual a amostra se encontra deve ser adequado em termos de volatilidade, viscosidade, habilidade de molhar a fase estacionária. Como a placa não é reutilizada, podem ser aplicadas soluções menos puras do que as usadas em cromatografia gasosa ou líquida de alta eficiência, desde que as impurezas não afetem adversamente a detecção (SHERMA, 2005).
O controle de qualidade de princípios ativos geralmente utiliza procedimentos simples de extração. A principal razão de fazer uma extração é remover materiais que possam interferir na análise. Mas mesmo que haja um problema de interferência após a extração, a cromatografia é capaz de separar o princípio ativo de interferentes (WATSON, 1999).
Alguns medicamentos precisam de procedimentos bem simples de preparação para análise em CCD. Na monografia de cloridrato de ciprofloxacino (solução oftálmica), o medicamento pode ser diretamente aplicado à placa. Na monografia de amoxicilina em cápsula (Farmacopéia Brasileira, 2000), é suficiente uma diluição da quantidade desejada do pó de medicamento em solução de ácido clorídrido, auxiliada por ultra-som. Na monografia de cefalexina na forma de pó para suspensão oral (The United States Pharmacopeia, 2006), basta diluir uma quantidade definida de amostra reconstituída com água.
Alguns medicamentos na forma de comprimido, como o Ibuprofeno e Carbamazepina (Farmacopéia Brasileira, 2000; Farmacopéia Brasileira, 2001), exigem sucessivas extrações em funil de separação (com clorofórmio, no caso destes princípios ativos), seguidas de filtração. Entretanto, antes da aplicação da solução teste na placa de CCD, os extratos têm que ser evaporados e diluídos em volume definido de solvente, de forma que o analito esteja suficientemente concentrado para ser detectado.
Entre os procedimentos de cleanup incluem-se extração líquido-líquido, cromatografia em coluna, extração por fluido-supercrítico, desproteinização (SHERMA, 2005). A extração líquido-líquido é uma técnica versátil de separação, na qual dois solventes imiscíveis entre si são colocados em contato e um eles possui um ou mais solutos passíveis de migrarem entre os solventes. Esta técnica pode ser efetuada em um funil de separação (KAR, 2005).
Após n extrações usando idênticos volumes V1, a fração não extraída de soluto é dada por (KAR, 2005):
f_{n}=\left (\displaystyle\frac{V_{1}}{V_{2}}K_{p}+1 \right )^{-n}
Em que V2 é o volume do solvente que continha inicialmente todo o soluto e Kp é o coeficiente de partição, dado pela razão entre a solubilidade do soluto no solvente de volume V1 e a solubilidade do solvente de volume V2. Esta equação mostra porque várias extrações são mais eficientes do que uma única extração usando o mesmo volume total de solvente.
A extração líquido-líquido está presente na farmacopéia brasileira: limite de produto de degradação da trimetoprima – Sulfametoxazol+Trimetoprima suspensão oral (Farmacopéia Brasileira, 2003):
a)    Amostra de medicamento é colocada em um funil de separação.
b)    Em seguida, são feitas três extrações com uma mistura de clorofórmio e metanol.
c)    Após evaporar a solução, o analito é dissolvido para uma concentração definida.
d)    O método de análise é a cromatografia em camada delgada, com uso de padrão de trimetoprima.
Outro caso de extração líquido-líquido apóia-se nas formas ionizadas e não-ionizadas de bases e ácidos orgânicos. As bases deste método de extração são as seguintes (WATSON, 1999):
a)    Sais de bases orgânicas (forma ionizada – ex.: sulfatos e cloretos) são altamente solúveis em água. A forma de base livre (forma não-ionizada) é usualmente solúvel em meio orgânico, particularmente em solventes polares como clorofórmio ou misturas de clorofórmio e metanol.
b)    Sais de ácidos orgânicos (forma ionizada – ex.: de sódio ou de potássio) são solúveis em água. A forma de ácido livre (forma não-ionizada) é usualmente solúvel em solventes orgânicos.
Para ilustrar este método de extração, pode-se citar a monografia de sulfametoxazol+trimetoprima injetável da Farmacopéia dos Estados Unidos, no teste A de Compostos Relacionados – Produto de degradação de trimetoprima (The United States Pharmacopeia, 2006):
a)    Porção definida de medicamento é transferida para tubo de centrífuga;
b)    Solução de ácido clorídrico é adicionada, levando a uma precipitação de um pó branco (sal de trimetoprima – afinidade com fase aquosa);
c)    Clorofórmio é adicionado ao tubo (remoção de impurezas);
d)    Após centrifugação e remoção da fase aquosa para um funil de separação, mais solução de ácido clorídrico é adicionada ao tubo de centrífuga (segunda extração);
e)    Após centrifugação, a fase aquosa é colocada no funil de separação e o clorofórmio é descartado;
f)      A solução do funil de separação é tornada básica com utilização de solução concentrada de hidróxido de sódio (transformação da trimetoprima em sua forma de base livre);
g)    São feitas três extrações com clorofórmio (pois a trimetoprima em forma de base livre terá afinidade com este solvente);
h)    O clorofórmio é evaporado. O analito é dissolvido para uma concentração definida com uma mistura de clorofórmio e metanol.
i)      O método de análise é a cromatografia em camada delgada. A solução teste é confrontada com soluções de padrão de trimetoprima.
            Referências      
                FARMACOPÉIA Brasileira. 4. ed. São Paulo: Atheneu, 2000. pt. 2. n. 2. POSTADO POR HELCIO SAMPAIO.

Nenhum comentário:

Postar um comentário